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IMAGINAÇÃO ATIVA

IMAGINAÇÃO ATIVA

A imaginação, desde sempre foi um espaço de liberdade que, em princípio, não pode ser tirada de ninguém. Lembra eventos passados e nos permite viver o futuro no espaço vivencial do presente. Por outro lado, o espaço vivencial torna-se, na imaginação, uma realidade simbólica, um espaço intermediário entre o mundo interno e o externo. Para ser útil ao ser humano, deverá estar sempre, tanto conectada ao mundo concreto como ao mundo psíquico. Da união fértil entre esses dois domínios pode nascer uma realidade que os transcende, criando e ampliando as novas possibilidades de vida.

É preciso uma preparação e uma condição adequada para entrar em contato com esta dimensão da psique. Sempre o diálogo com as imagens emergentes do inconsciente foi considerado um caminho. A Imaginação Ativa é uma possibilidade de preparar o campo para este contato e, também, assegurar a elaboração e possível introdução na vida desta vivência quase sempre penosa.

Na visão de Barbara Hannah (Encounters with the Soul. Active Imagination as developed by C.G.Jung, Sigo Press, Boston 1981), a Imaginação é um método de pesquisar o desconhecido, seja quando pensamos num Deus exterior como algo infinito e imensurável ou quando sabemos que podemos encontrá-lo numa vivência interna. No entanto a experiência nos ensina que se afastar dos assuntos conhecidos de nosso mundo consciente, para entrar em contato com algo totalmente desconhecido do mundo interno e inconsciente, pode ser uma experiência assustadora. Jung nos ensinou que a atitude a ser mantida nestes casos não é nada fácil: evitar o pânico. Assim como em acontecimentos totalmente imprevisíveis no mundo externo, as pessoas podem aumentar o perigo da situação por não acreditarem na possibilidade de uma saída segura. Precisamos estar seguramente enraizados, tanto internamente como no mundo exterior, antes de nos arriscar numa experiência de uma viagem psíquica para dentro do desconhecido. Quando bem utilizado, o método da Imaginação Ativa pode ser de grande ajuda para manter o equilíbrio e pesquisar o desconhecido. Pensamos muitas vezes, que a Imaginação Ativa representa um método de meditação ocidental e, em parte, isto é assim mesmo. No entanto, é também, um trabalho muito duro e cansativo que empreendemos para negociar com tudo aquilo que está em nossa psique e nos é desconhecido. Sabemos que para manter a paz em casa é preciso saber negociar com os diversos componentes da família. Conforme é dito popularmente, é o tom que faz a música. Jung escreve em Psicologia e Alquimia: “Sabemos que a máscara do inconsciente não é rígida, ela espelha o rosto que voltamos para ela. Animosidade confere a ela um aspecto ameaçador, gentileza suaviza seus traços.” Assim é importante aceitarmos com cordialidade o fato de que existe uma grande parte da personalidade que age sobre nós sem que saibamos de onde vem a sua influência. Só podemos mudar este fato quando por um motivo ou outro formos obrigados a conviver com este irmão escuro que habita em nós e que poderá nos apaziguar a vida se a ele voltamos uma face receptiva e amigável.

A maior qualidade da Imaginação Ativa é nos colocar em sintonia com o que os chineses chamam de Tao. O sinal chinês para o Tao é composto do sinal para a cabeça e do sinal para caminhar. Richard Wilhelm traduz o Tao por sentido. Outros o traduzem como caminho. A palavra cabeça se refere provavelmente à consciência, enquanto o caminhar pode representar o caminho a ser percorrido. A ideia do Tao, portanto, nos ajuda a fazer uma analogia com a Imaginação Ativa em que se procura trazer para a consciência o que no momento é necessário ao caminho de individuação de um indivíduo. Estar em consonância com o Tao pode ser entendido também como estar em total harmonia com Deus. A crença antiga amplamente espalhada de que bruxas ou magos tinham o poder de influenciar o meio ambiente, tal como o clima, nos remete ao fato de que o efeito da relação harmônica ou desarmônica que o ser humano tem com seu inconsciente pode provocar a desordem não só na psique como também na natureza exterior. Este tema é extremamente atual neste momento de muitos desastres ecológicos resultantes provavelmente – ou pelo menos, intensificados – de uma relação unilateral com os recursos naturais de nosso planeta.

Tanto a oração e a meditação quanto o pacto com forças obscuras e diabólicas têm uma conexão muito forte com a Imaginação Ativa, pois ambas representam o esforço de entrar em contato com poderes inconscientes. A diferença entre as duas intenções poderia ser resumida psicologicamente no fenômeno de que o místico procura desistir das exigências do eu, enquanto as forças de bruxos e demônios são utilizadas para fins egóicos, no sentido de cada vez mais aumentarem o seu poder. Por isto, a Imaginação Ativa nos dá a possibilidade de iniciar as negociações com as forças e as figuras do inconsciente e lentamente entrar numa relação harmoniosa com elas. É nesse ponto que se diferencia do sonho, pois nele não temos controle sobre nosso próprio comportamento. Durante as peripécias do processo percorrido na Imaginação Ativa, o eu participa ativamente dos acontecimentos. Ele tem o livre arbítrio e a possibilidade de escolha e pode decidir sobre o encaminhamento do processo.

Nesse ponto pode ser importante descrever brevemente como a Imaginação Ativa é aplicada. Em primeiro lugar deve-se estar sozinho e livre de perturbações, assumir uma posição confortável e concentrar-se em ver e ouvir tudo que emerge do inconsciente. Decidir por uma imagem e observar como vai se transformando. Após a imaginação, procurar impedir que a imagem evocada volte para o inconsciente através da objetivação através do desenho, da modelagem em argila ou da escrita que descrevem o processo. Algumas vezes pode ser melhor expressar o ocorrido através da dança ou do movimento meditativo. Escrever histórias também ajuda a desvendar aspectos psíquicos antes desconhecidos. O objetivo é entrar em contato com o inconsciente, superando uma oposição inicial da consciência às fantasias que estão sempre presentes no inconsciente. Citando Jung, ao falar da vivência da Imaginação Ativa pelos diversos tipos psicológicos: Alguns aceitam principalmente

o que vem ao seu encontro do lado de fora, outros o que vem de dentro. E como quer a lei da vida, um vai pegar de fora o que nunca tinha aceito no exterior, e o outro vai aceitar de dentro o que ele sempre excluía em seu interior. Essa inversão do ser representa uma ampliação, uma elevação em um enriquecimento da personalidade, quando os valores anteriores, na medida em que não eram apenas ilusões, vão ser mantidos além da inversão. Caso não forem mantidos, o indivíduo cai no outro lado e passa do útil para o inútil, da adaptação para a inadaptação, do sentido para o não-sentido, da razão para a perturbação psíquica. O caminho não é sem perigo, tudo o que é bom é precioso, e o desenvolvimento da personalidade pertence às coisas caras. Trata-se de dizer sim a si mesmo – colocar-se como tarefa mais séria e manter a consciência do que se está fazendo, colocando diante de seus olhos todos os aspectos duvidosos – realmente, uma tarefa que nos penetra até os ossos (O Segredo da Flor de Ouro, 1981).

Normalmente, leva-se muito tempo, muitos anos, até que ambos os lados da personalidade, representados pela consciência e pelo inconsciente se harmonizem, ou “entrem no Tão”. Pode ajudar, além do que já foi dito, manter diálogos com os conteúdos do inconsciente que se manifestam como pessoas ou seres em geral, durante a imaginação. É uma possibilidade recomendada por Jung, porém em estágios de maior maturidade durante o processo da Imaginação Ativa. Naturalmente, tem que se ter o cuidado de descobrir com quem se está falando, pois nem toda voz do inconsciente deve ser aceita como inspiração de aspectos divinos. Aprender a distinguir as vozes e a maneira como se expressam, cuidando para não cometer erros, é importante para a posterior integração dos conteúdos vivenciados. Mas, através da visualização das imagens na objetivação, esta discriminação se torna mais fácil. Bárbara Hannah ressalta a importância de manter as experiências na memória. Afirma que, principalmente para os introvertidos, a Imaginação Ativa é a chave de ouro para a compreensão de sua verdade interior, auxiliando-os a descobri-la também no exterior.

A Psicologia Analítica Junguiana constitui a base teórica de uma das modalidades de tratamento que prevê um processo natural de crescimento em direção à inteireza da personalidade, conhecido como individuação.

Sua atuação terapêutica inclui a interpretação simbólica de sonhos e imagens interiores que podem ser objetivados através de várias técnicas expressivas não verbais podendo ser compreendidas de modo geral na abordagem da Imaginação Ativa.

A atitude necessária do terapeuta e do educador que se utiliza de recursos expressivos em seu trabalho, parte do princípio que deve aceitar tudo que o sujeito manifesta como sendo vivo e podendo representar o interior psíquico: um pedaço de pau pode ser “meu filhinho”. É o como se que permite a transformação simbólica de uma situação material, que se fixou na psique e aparentemente não tem saída.

Nesta abordagem, compreende-se a realidade psíquica como sendo tão viva quanto a física. Uma tal atitude podemos chamar de atitude simbolizadora. Através dela projetamos algo que está inconsciente e que tem conexão com nossa existência sobre a realidade exterior. Para vivenciar o símbolo devemos estar prontos a nos deixar mobilizar emocionalmente por ele.

O símbolo tem uma conexão interna com o que através dele é representado. Essa conexão garante a intensidade de seu valor subjetivo, isto é, a carga de sentido dessa representação. É nisso que o símbolo se distingue do sinal. Sinais são representantes que não possuem um excedente de significado; são acordos fixados por meio de uma afirmação que se torna universal.

Outro aspecto importante a ser considerado é o aparecimento de fenômenos sincronísticos: os campos se formam, os eventos físicos se associam às situações não materiais, psíquicas, formando as chamadas coincidências significativas.

Por parte do sujeito, é necessário obter um estado de absorção, ele deve estar convencido de que seu lugar agora é este e, brincando, vai formar uma história, a sua história. Precisa tomar a decisão de entregar-se ao processo lúdico, meditativo e confiar na auto regulação da psique.

Na interpretação dos fenômenos, é necessário levar-se em conta o contexto de vida da pessoa, o seu ponto de vista consciente, o princípio da compensação e da complementação.

A Imaginação Ativa, uma atividade terapêutica não-verbal criada por Jung; é uma experiência meditativa que visa à emergência de imagens interiores impregnadas de emoções importantes na história do desenvolvimento do indivíduo.

A premissa teórica do trabalho com recursos expressivos é a de que existe uma relação direta entre as imagens interiores de uma pessoa – os estados emocionais ligados a ela – e a manifestação criativa na realidade exterior em seu simbolismo espacial e na sua expressão dinâmico-afetiva.