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O Caminho de um Novo Conhecimento de Si Mesmo

O Caminho de um Novo Conhecimento de Si Mesmo

A Psicologia Analítica Junguiana constitui a base teórica de uma das modalidades de Psicoterapia que vem se destacando atualmente: a Análise Junguiana. Correspondendo a uma necessidade crescente do desenvolvimento do indivíduo, numa sociedade que, cada vez mais, se volta para o consumo e massificação, ela afirma a necessidade do auto conhecimento e da ligação entre consciência e  inconsciente. Prevê um processo natural de crescimento em direção à inteireza da personalidade, conhecido como individuação. Sua abordagem terapêutica inclui a interpretação simbólica de sonhos e imagens interiores que podem ser objetivados através de várias técnicas expressivas não verbais como a Imaginação Ativa, o Desenho Livre, a Dança Criativa, e Meditativa e o Jogo na Areia. A Análise Verbal é associada a essas técnicas, favorecendo a elaboração das experiências vividas, dos conflitos e dificuldades pessoais.

A Imaginação Ativa, uma técnica terapêutica não-verbal criada por Jung, é uma experiência meditativa que visa a emergência de imagens interiores impregnadas de emoções importantes na história do desenvolvimento do indivíduo.

O Desenho Livre possibilita a expressão de conteúdos psíquicos inconscientes, como já foi observado em diversos testes projetivos. A única instrução dada aos participantes dos grupos é que desenhem aquilo que esteja presente no momento, sendo o objetivo dar uma realidade concreta a, pelo menos, parte do acontecimento imaginário. A objetivação dos conteúdos interiores através do desenho é vista como uma forma de estimular o diálogo do Eu consciente com as imagens interiores consteladas no momento.

O Jogo na Areia, introduzido por Dora Kalf utiliza uma bandeja cheia de areia que se constitui num espaço livre e protegido, possibilitando às pessoas, ao criar situações, o contato com o inconsciente e a expressão de experiências pré-verbais e energias bloqueadas. Este cenário serve para a construção de imagens, através do uso de uma grande variedade de miniaturas que representam uma amostra do mundo real e da fantasia. Em sua prática clínica, Kalf percebeu que o efeito da expressão lúdica na Caixa de Areia correspondia à ativação de energias regeneradoras e curativas, enfatizando a conexão entre o Self inconsciente e o Ego consciente, resultando na restauração do funcionamento natural da Psique.

Dentre essas técnicas expressivas, nosso ponto de concentração foi a Dança Meditativa.

A premissa teórica do nosso trabalho é a de que existe uma relação direta entre as imagens interiores de uma pessoa – os estados emocionais ligados a ela – e a movimentação do seu corpo no espaço e no tempo. O movimento corporal tem um significado próprio na sua realidade espacial e na sua expressão dinâmico-afetiva.

Pode-se dizer, a partir de observações clínicas, que os estados emocionais de uma pessoa se expressam numa sensação espacial interior que se manifesta na postura do corpo  e no padrão de movimento.

No início da vida,  podemos observar que a comunicação não verbal se desenvolve como uma linguagem vital e mesmo primal. Neste estágio os movimentos servem como único meio de comunicação. Em seu livro “Das Kind”, Neuman (Bonz Verlag, Fellbach, 1980) descreve como a criança em seu primeiro ano de vida existe quase que exclusivamente como corpo, ou seja, é principalmente o Self corpóreo, a totalidade única e delimitada do indivíduo que ocorre pela unidade biofísica do corpo.

Entende-se que o corpo é uma realidade simbólica, cujos significados precisam ser desvendados. Para quem se dispõe a pesquisar e ater-se às mensagens que o corpo expressa, elas são fontes inesgotáveis de dados proveitosos no trabalho terapêutico.

Os aspectos doentes de nosso corpo ou, segundo a cultura em que vivemos, inadmissíveis, evocam o conceito de sombra de Jung – aquela parte da história que não assimilamos e que dificilmente reconhecemos como sendo nossa. O corpo torna-se então, um arquivo vivo de experiências não assimiladas, sendo por isto, considerado sombrio e perigoso. Muitas proibições e muitos tabus giram em torno de necessidades fisiológicas ou instintivas que o corpo manifesta.

O encontro com o corpo e seu movimento, além de concentrar-se na vivência atual do Eu consciente, pode ser vivenciado simbolicamente, como expressão da realidade interior da pessoa , tanto em sua manifestação passada como futura.

A Dança Meditativa é uma das possibilidades de vivenciarmos o ser corpóreo nas dimensões de tempo e espaço, representando uma genuína e direta experiência existencial.

Este trabalho baseia-se em exercícios estruturados para que o indivíduo alcance a consciência corporal, seguidos de improvisação com movimentos livres e exercícios de concentração. A conscientização corporal  é buscada através de uma integração harmoniosa de movimentos elementares ordenados e do uso das possibilidades de movimentação orgânica do corpo. A música e o movimento combinam-se numa vivência associada aos princípios da Imaginação Ativa Junguiana. Durante a improvisação livre e a realização dos exercícios de concentração, a vivência intensa com a música compreendida como energia sustentadora, ajuda na expressão das imagens, sensações e acontecimentos psíquicos emergentes. A calma resultante dessa vivência, possibilita a concentração que cria o espaço e o tempo para se chegar a si mesmo. A polaridade entre movimento e repouso desenvolve um ponto de referência pessoal através de uma nova percepção de si e uma consequente autoconfiança.

A conjugação de movimento meditativo e expressão de imagens interiores no Desenho Livre e na Caixa de Areia proposta neste trabalho possibilita um processo de integração dos estados emocionais opostos do indivíduo, favorecendo uma experiência interior de plenitude e harmonia. A vivência expressiva é vista como o espaço em que se possibilita ao indivíduo o contato com as imagens interiores relacionadas com seu processo de integração psíquica. Assim, os vários aspectos opostos ou polares da personalidade podem vir à consciência acompanhados das emoções conectadas com as imagens emergentes. Através da relação com estes estados emocionais pode ocorrer a objetivação, possibilitando ao paciente, a resolução de questões pendentes do passado e a integração de novas realidades interiores. Estas realidades novas, emergindo do Inconsciente, tanto em sua dimensão pessoal como coletiva, vão enriquecer e completar a percepção consciente do indivíduo.

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Elisabeth Bauch Zimmerman

Bibliografia

  1. Chodorow, Joan – Dance therapy and depth psychology: The moving imagination. Routledge, London, 1991.
  2. Conger, John P. – Jung e Reich: o corpo como sombra, Sumus Editorial, S. Paulo, 1993.
  3. Hall, E. – The silent language, Anchor Press Doubleday, New York, 1981.
  4. JUNG, C. G.- O Espírito na Arte e na Ciência. Petrópolis: Vozes. 2013.b
    __________. Memórias, sonhos, reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1975
  5. Kalff, Dora M. – Sandplay, Sigo Press, Santa Monica, Califórnia, 1980.
  6. KAST, V.   A Dinâmica dos Símbolos. São Paulo: Loyola. 1997
  7. Noak, Amelie – Dance movement therapy: theory and practic, Helen Payne Editors, 1992
  8. Woodman, Marion – A coruja era filha do padeiro, Cultrix, S. Paulo, 1980.