Análise Junguiana com Recursos Expressivos

A Psicologia Analítica Junguiana constitui a base teórica de uma das modalidades de Psicoterapia que vem se destacando atualmente: a Análise Junguiana. Correspondendo a uma necessidade crescente do desenvolvimento do indivíduo numa sociedade que, cada vez mais, se volta para o consumo e massificação, ela afirma a necessidade de auto conhecimento e da ligação entre consciência e inconsciente. Prevê um processo natural de crescimento em direção à inteireza da personalidade, conhecido como individuação.
Sua abordagem terapêutica inclui a interpretação simbólica de sonhos e imagens interiores que podem ser objetivados através de várias técnicas expressivas não verbais. Jung criou a Imaginação Ativa como uma experiência meditativa que visa a emergência de imagens interiores impregnadas de emoções importantes na história do desenvolvimento do indivíduo.
A abordagem dessas imagens pode dar-se através da Dança Meditativa, Desenho Livre e a Caixa de Areia, todas elas podendo ser vistas também como modalidades da técnica Imaginação Ativa.
Jung criou a Imaginação Ativa, uma técnica não verbal que visa à emergência espontânea de imagens interiores impregnadas de emoções importantes na história do desenvolvimento do indivíduo. Trata-se de um sonhar acordado, que se instala após uma fase de relaxamento. A pessoa concentra-se num evento específico ou num estado de espírito manifestados numa imagem inicial que se transforma num enredo com uma estrutura dramática semelhante aos sonhos. Os conteúdos da imaginação são objetivados de diversas maneiras – no desenho, na dança, na escrita de prosa ou verso – podendo ser examinados à luz dos conhecimentos simbólicos da psicologia analítica. O último passo dessa técnica é o que Jung chamou de consequência ética e designa a transposição para a vida real de uma parte da vivência imaginativa.
A vida psíquica se dá predominantemente por imagens. Os conceitos correspondem a uma elaboração posterior da mente humana, representando uma atitude analítica, e, portanto, de divisão. A imagem emergente une e centraliza os fatos que estão constelados num determinado momento do processo. Ela é como uma fotografia do momento de um indivíduo e, ao contemplá-la, podemos nos remeter ao outro lado da vida psíquica, comumente não percebida por não entrarmos em contato com ele diretamente.
A experiência de pintar ou desenhar pode ter vários efeitos psicológicos. Um deles é a canalização da energia contida, representando, portanto, a oportunidade de uma catarse. Isso, em si, já é benéfico, pois a energia pode redistribuir-se de uma maneira nova.
Por outro lado, a imagem representada é a atualização de possibilidades até então não conscientes e a cristalização de material difuso que passa a assumir uma forma mais definida. Nessas condições, é possível um diálogo e, mais adiante, a integração dos conteúdos expressos. Os conteúdos do inconsciente se tornam mais familiares e é possível lidar com eles sem tanto medo de que dominem o eu consciente.
Está muito claro que esse hábito de expressar os conteúdos inconscientes através de imagens pode ajudar na criação de um continente para os elementos do inconsciente que se acham constelados na dinâmica atual da psique de um indivíduo.
A Dança Meditativa é uma das possibilidades de vivenciarmos o ser corpóreo nas dimensões de tempo e espaço, representando uma genuína e direta experiência existencial.
Este trabalho baseia-se em exercícios estruturados para que o indivíduo alcance a consciência corporal, seguidos de improvisação com movimentos livres e exercícios de concentração. A conscientização corporal é buscada através de uma integração harmoniosa se movimentos elementares ordenados e do uso das possibilidades de movimentação orgânica do corpo. A música e o movimento combinam-se numa única vivência durante a improvisação livre e a realização dos exercícios de concentração.
O Desenho livre possibilita a expressão de conteúdos psíquicos inconscientes, como já foi observado em diversos testes projetivos. A única instrução dada aos participantes dos grupos, ou ao analisando, é que desenhem aquilo que esteja presente no momento, sendo o objetivo dar uma realidade concreta, pelo menos, a parte do acontecimento imaginário. A objetivação dos conteúdos interiores através do desenho é vista como uma forma de estimular o diálogo do Eu consciente com as imagens interiores consteladas no momento.
O Jogo na Areia, introduzido por Dora Kalff utiliza uma bandeja cheia de areia que se constitui num espaço livre e protegido, possibilitando às pessoas, ao criar situações, o contato com o inconsciente e a expressão de experiências pré-verbais e energias bloqueadas. Este cenário serve para a construção de imagens, através do uso de uma grande variedade de miniaturas que representam uma amostra do mundo real e da fantasia.
Elisabeth Bauch Zimmerman
Bibliografia
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- KALFF, Dora – Sandplay, Sigo Press, Santa Monica, CA, 1980.
- MINDELL, Arnold – O corpo onírico; o papel do corpo no revelar do si-mesmo, Summus, São Paulo, 1989.
- NEUMANN, E. – A Criança ,Cultrix, São Paulo, 1981
- PEREIRA, Paulo José B.. – A Improvisação Integral na Dança, Editora Medita, Campinas, 2014
- ___________________ A Dança como expressão do Self,in Cadernos Junguianos, AJB, São Paulo, 2015
- ___________________ Reflexões sobre corpo-Self, in Cadernos Junguianos, AJB, São Paulo, 2017
- RAMOS, Denise Gimenez – A psique do corpo, uma compreensão simbólica da doença, Summus Editorial, São Paulo, 1994
- SCHWARTZ-SALANT, Nathan – Narcisismo e transformação de caráter, Cultrix, São Paulo, 1988.
- WOODMAN, Marion – A coruja era filha do padeiro, Cultrix, S. Paulo, 1980.
- ZIMMERMANN, Elisabeth B. – in Corpo e Psique: sua potência expressiva na individuação, Cadernos Junguianos, AJB, São Paulo, 2017